No início do ano, a empresa indiana Ringing Bells anunciou para grande espanto que lançaria o smartphone Freedom 251 a um preço abaixo dos US$ 4 (R$ 13). Agora a empresa coloca à venda 200 mil unidades do modelo. A repórter Shilpa Kannan, da BBC em Nova Déli, na Índia, foi uma das primeiras pessoas a testá-lo e diz se há razão para tanto ceticismo.
Ter em mãos um dos smartphones “mais baratos do mundo” não é fácil. O Freedom 251 é um aparelho com sistema Android que a Ringing Bells pensa vender a 251 rúpias (R$ 12,30). Ao manipulá-lo, ele se parece com um iPhone 5, da Apple. E, levando em conta seu preço, as especificações são bem impressionantes: câmeras em ambos os lados; 1GB de RAM; 8 GB de memória interna, expansível para 32 GB; processador quad-core, que fornece um maior poder de processamento quando necessário e usa menos bateria no resto do tempo. Há dois modelos: um branco e outro preto.
Aplicativos básicos
Em princípio, ele parece se comportar como um smartphone mais simples. Mas é difícil colocar à prova seus recursos, já que vem com apenas alguns aplicativos básicos, como calculadora, tocador de música, navegador de internet e e-mail.
Mas muitos questionam se a companhia será capaz de entregar milhões de aparelhos como promete.
Um membro do Parlamento indiano, Kirit Somaiya, chegou a sugerir que tudo não passa de uma “grande farsa”, enquanto o diretor da Associação Indiana de Celulares, que reúne empresas do setor, disse que a venda de um aparelho assim parecia “uma piada ou um golpe”.
Mohit Goel, fundador e presidente da Ringing Bells, nega as acusações de fraude.
Sua família está no ramo de fabricação de frutas secas há anos, e ele diz que o desejo de fazer parte da Índia digital o levou a ter a ideia de um smartphone de baixo custo.
Alta demanda
Não se pode negar que há muita demanda por um produto assim. A Índia é o segundo maior mercado de celulares do mundo, com 1 bilhão de assinantes, muitos dos quais têm um smartphone barato – ainda que não tão barato assim. Mas o Freedom 251 é bom demais para ser verdade?
Pude mexer em um aparelho quando a empresa o anunciou, em fevereiro deste ano. Mais de 70 milhões de pessoas se registraram na época pela internet para comprá-lo. O site da companhia não aguentou e chegou a sair do ar.
No entanto, o telefone dado a mim e outros jornalistas era na verdade um modelo feito por uma empresa da China. O nome da marca – Adcom – estava coberto por tinta branca na frente e por um adesivo na parte de trás. E, estranhamente, os símbolos dos aplicativos se pareciam com o sistema iOS, usado no iPhone, apesar de ser um aparelho Android.
Isso gerou furor e protestos na porta da sede da companhia, que foi questionada pela polícia, autoridades fiscais e uma agência do governo indiano responsável por combater crimes econômicos. A Ringing Bells devolveu, então, os depósitos feitos por 30 mil potenciais compradores pela internet.
O novo aparelho é um modelo completamente diferente. A mudança mais óbvia é que há agora três botões abaixo da tela, em vez de apenas um.
Subsídios
Mas onde a Ringing Bells está fabricando este telefones, se ainda precisa construir suas fábricas? Goel diz que sua empresa está importando “peças” de Taiwan e realizando a montagem em Haridwar, no norte do país.
O celular custa cerca de 1.180 rúpias para ser fabricado, e a Ringing Bells diz subsidiá-lo por meio de acordos com as fabricantes dos aplicativos que já vêm pré-instalados. Goel diz que terá um prejuízo de 150 rúpias com cada smartphone, e espera que o governo também o subsidie. Cerca de 200 mil unidades estariam prontas para serem vendidas.
A Ringing Bells também planeja ter modelos mais caros, vendidos por até US$ 100 (R$ 330) – e com lucro. Mas os críticos ainda não estão convencidos.
“Acho difícil crer que um telefone pode ser fabricado por 251 rúpias, então, é difícil entender o modelo de negócios deles”, diz Pranav Dixit, especialista em tecnologia do site de notícias Factor Daily.
“E tem algo mais importante: os fundadores não têm experiência na indústria de tecnologia.”