Quando os Chromebooks foram lançados em 2011, eles pareciam destinados ao fracasso, assim como os netbooks que vieram antes. Mas ao longo desses cinco anos, os Chromebooks desafiaram as expectativas, tornando-se o dispositivo mais utilizado nas salas de aula dos EUA e até mesmo superando vendas de Macs no país pela primeira vez este ano.
Ainda assim, as pessoas reclamam porque esses laptops não conseguem fazer muito fora do navegador – o que está prestes a mudar. Na versão mais recente do Chrome OS, um milhão de apps do Android estão agora disponíveis para Chromebooks através da Play Store.
Após uma atualização de software, você poderá instalar quase qualquer aplicativo para Android no mercado, mudando radicalmente o que seu Chromebook é capaz de fazer. Por enquanto, a atualização só está disponível no Asus Chromebook Flip e em breve virá ao Chromebook Pixel (2015) e ao Acer Chromebook R11.
Ansioso para experimentar o recurso, eu peguei nosso Chromebook Flip e o usei por alguns dias. Sim, o novo software ainda está nos estágios iniciais de implementação, mas mesmo depois de passar apenas alguns dias com o beta, posso dizer com segurança que a versão final será uma mudança radical para Chromebooks, com o potencial de transformá-los em máquinas plenas de computação.
Eis minha experiência de usar o Chrome OS com apps do Android.
Configuração
Atualizar o Chromebook foi muito fácil. Eu naveguei pelas configurações, mudei meu dispositivo para o canal de desenvolvedores do Chrome, e instalei a atualização 53 em poucos minutos. Após uma reinicialização rápida, lá estava a Play Store na parte inferior da tela.
Depois de instalar a atualização, os apps Android ficam imediatamente disponíveis e podem ser fixados à barra de tarefas como qualquer outro webapp ou URL.
Há, no entanto, algumas ressalvas. A maioria dos aplicativos são feitos para smartphones e tablets, portanto alguns não estão disponíveis no Chrome OS. Estes são alguns fatores que proíbem um app do Android no seu Chromebook:
– apps que exigem uma boa câmera traseira (nada de Instagram por enquanto)
– tudo o que exige GPS
– qualquer app que exija SMS
Todas estas são limitações de hardware, por isso, se você está esperando pacientemente que esses apps cheguem a seu Chromebook mais antigo, não espere vê-los em breve.
Mas esses problemas podem não ser tão permanentes como você imagina. O Google anunciou em maio, durante a conferência de desenvolvedores I/O, que Chromebooks futuros – especificamente da Samsung – virão com o hardware necessário para tirar proveito desses aplicativos. Mas, por enquanto, alguns não funcionarão.
Claro, outros problemas surgem também. A maioria destas máquinas não são projetadas para baixar e armazenar apps para uso off-line, por isso alguns Chromebooks podem ser severamente limitados quando se trata de armazenamento. Muitos dispositivos mais antigos não têm como expandir a memória (tal como um smartphone Android). Isso provavelmente mudará com a próxima safra de Chromebooks.
Um mundo novo cheio de apps
Enquanto alguns de seus aplicativos favoritos podem estar faltando, o Chrome OS 53 tem muitos recursos que valem o download.
A maioria dos apps que eu usei rodaram sem grandes problemas. Isto acontece porque o Android realmente está sendo executado em uma sandbox separada no Chrome – não se trata de emulação – por isso a experiência é notavelmente fluida.
Todos os apps têm uma versão em tela cheia e em janela – sem opções de redimensionamento, provavelmente porque os desenvolvedores nunca tiveram que se preocupar com isso.
Há alguns pequenos problemas aqui: a gaveta de apps não desaparece quando você entra em modo de tela cheia; felizmente, você pode configurar a barra de tarefas para se ocultar automaticamente.
A maioria dos apps para Android no Chrome OS certamente parecem programas normais de desktop, mas nem sempre agem dessa forma – podem acontecer coisas estranhas e inesperadas.
Eu notei que o app do Netflix não continuava a tocar vídeos em segundo plano se eu mudasse para outro app. Estava vendo Orange Is The New Black no fim de semana, fui ao Chrome para enviar um e-mail rápido, e o Netflix imediatamente parou de reproduzir o episódio.
Isto é provavelmente porque o Android ainda não tem suporte multijanela (isso está vindo no Android N), então não há realmente um motivo para o app continuar tocando o vídeo em segundo plano, como faria em um desktop normal.
No caso de aplicativos como o Spotify – projetados para rodarem em segundo plano – isso não foi um problema. Assim, só vale a pena usar a versão web de um determinado aplicativo em alguns casos, não todos.
O Spotify usa o design horizontal do app móvel quando roda em um Chromebook. Não é a mesma coisa do programa para Windows/Mac, mas é bastante útil e pode salvar músicas para uso offline.
Quanto à produtividade, Chromebooks são quase tão úteis quanto um tablet Android em termos de disponibilidade de apps. Você terá que usar a versão móvel do Photoshop em vez de um aplicativo completo de desktop. Mas a Play Store preenche algumas lacunas necessárias, oferecendo apps como Trello e Feedly, que me ajudaram no meu trabalho.
Você pode baixar o Office e usá-lo offline, o que é uma mão na roda; mas a Microsoft cobra assinatura caso você queira rodá-lo em uma tela maior de 10,1 polegadas. Ainda assim, em comparação com outras tentativas do Google em tornar o Android mais produtivo – caso do Pixel C – os Chromebooks rodando Android são um passo na direção certa.
Jogos chegam em peso ao Chrome OS
O benefício mais óbvio da Play Store no Chrome OS está nos jogos. Claro, a Chrome Web Store tem alguns jogos, mas eles não são nada se comparados aos do Android.
Diversos jogos populares não têm clientes de desktop. Por isso, esses apps ficavam de fora dos Chromebooks e até de desktops em geral. Sim, isso significa que agora você pode jogar Clash of Clans (sem emuladores) em um laptop.
Mas nem tudo são boas notícias quando se trata de jogar em um Chromebook. Alguns jogos têm perspectiva fixa, na horizontal ou na vertical. Os títulos nessa última categoria ficam muito estranhos em uma tela horizontal.
Por enquanto, se você está tentando jogar um game vertical, aconselho a não fazer isso. Para certos Chromebooks, como o Flip, isso é um problema menor, porque ele basicamente pode se transformar em um tablet graças à dobradiça de 360 graus. No entanto, esse não é o caso para a maioria dos Chromebooks.
O começo de algo grande
Os apps do Android no Chrome OS ainda estão em seu início. Há muito trabalho que o Google e os desenvolvedores precisam fazer a fim de torná-los utilizáveis para a maioria das pessoas.
No entanto, considerando que se trata de uma quantidade enorme de apps portados de uma plataforma para outra, a experiência é surpreendentemente boa.
Neste momento, todas as grandes empresas de gadgets estão tentando levar a computação do tablet para o próximo nível. A Microsoft aposta no Surface e em apps universais do Windows 10. A Apple está tentando transformar o iPad em um substituto de laptop.
E agora, temos uma versão mais competitiva do Google para um tablet dedicado à produtividade. O lançamento do Chrome 53 não significa o fim de todos os tablets Android, mas poderia ser o início de uma espécie de Chromebooks que nunca vimos antes.