Pegar fila no banco para quê? Os aplicativos para smartphone se tornaram o maior canal de transações dos bancos brasileiros, segundo levantamento do G1.
A mudança de hábito dos clientes fez bancos tentarem transformar as agências em consultorias. Com isso, levaram aos apps funções como a contratação de crédito veicular e o desconto de cheques. Mas com a agilidade da internet e mobilidade de uma agência bancária carregada no bolso.
Até o primeiro semestre de 2015, o “internet banking” era o canal que mais realizava operações no Brasil, com 37,5% do total, à frente do “mobile banking”. Foi quando assumiu a segunda posição, de acordo com a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).
Crescimento recorde
Se um ano antes os apps respondiam por 11% das operações, nos seis primeiros meses de 2015, chegaram a 21%. A aceleração foi classificada de “extraordinária” pela Febraban, que disse nunca ter registrado “um salto tão grande em tão pouco tempo”.
O relatório anual da federação é divulgado em abril, mas, segundo informações analisadas pelo portal G1, a guinada dos aplicativos continuou “extraordinária” no restante do ano e promoveu uma nova dança das cadeiras no Banco do Brasil e no Bradesco.
No BB, os 13 milhões de usuários do app respondem por 32% de todas as transações. No Bradesco, são 7,6 milhões de clientes com acesso ao serviço móvel. Eles fazem 38% das operações do banco.
Nos outros bancos, o uso dos aplicativos não chegou a ser o principal, mas já ameaça outros canais.
No Itaú, 19% das operações são feitas pelo aplicativo, que encostou no caixa eletrônico, segundo canal mais solicitado.
Na Caixa Econômica Federal, os aplicativos realizam 10% das transações, mesma cifra das agências.
No Santander, os usuários “móveis” fazem 15% das transações.
Conveniência
Para Luca Cavalcanti, diretor de canais digitais do Bradesco, o que impulsiona o uso de aplicativos é a busca dos clientes por “conveniência, segurança e comodidade”.
“Estou em Osasco. Imagina se tivesse que pagar uma conta no [bairro dos] Jardins [em São Paulo]”, brinca o executivo – a distância entre as duas regiões é de 18 km.
Para incentivar os clientes a aderirem aos aplicativos, o banco oferece wi-fi nas agências para instalar os serviços. Fez ainda parceria com operadoras para o pacote de dados dos clientes não ser consumido com transações bancárias.
Para Marco Mastroini, diretor de canais digitais do BB, os bancos ganharam com a tendência, porque intensificam o relacionamento com seus clientes.
“Nossos gerentes conseguem no máximo ter um contato uma vez por semana. No ‘mobile’, ocorre uma vez por dia. Tem gente que, ao levantar, vai ver o saldo.”
Adeus, mundo físico
As consultas, que não envolvem movimentação de dinheiro, ainda são a maioria das operações via aplicativo.
Apesar de não informar quantas delas são financeiras, os bancos asseguram que cresce a quantidade de pagamentos, transferências e contratações de crédito.
No BB, as operações de investimento registradas no quarto trimestre de 2015 saltaram 223%, na comparação ano a ano, para R$ 1,1 bilhão.
A migração rumo aos smartphones tem feito os bancos levarem para o mundo móvel os serviços antes realizados só por agências ou caixas eletrônicos. O tempo para a aprovação de um financiamento veicular chega a durar dias de idas aos banco.
Se feito pelo smartphone, cai para alguns minutos. Isso porque, em vez de levar os documentos à agência, o cliente pode tirar fotos deles e enviá-las pelo aplicativo. Com isso, no BB, a aprovação do crédito dura até 30 minutos.
O desconto de cheques já ocorre no app do Bradesco e chegará ao do BB neste mês. O novo aplicativo do Bradesco , a ser lançado em breve, terá opções de fazer investimentos e resgates em fundos CDB e consultar um novo homebroker, adianta Cavalcanti.
Novas tecnologias
Além disso, os bancos correm para incorporar recursos criados pelas gigantes da tecnologia. O novo app do Bradesco terá suporte ao 3D Touch, tecnologia da Apple para apps responderem não só ao toque mas também à força exercida na tela.
O Bradesco também passará a usar a tecnologia de Comunicação por Campo de Proximidade (NFC, na sigla em inglês). Até o fim de março, entrará no ar uma espécie de agendamento inteligente, diz o executivo. Nele, o cliente informa no aplicativo o valor que pretende sacar. Para retirar o dinheiro, basta ir a um caixa eletrônico, aproximar o celular do terminal e certificar a operação com a impressão digital.
Com tantos serviços disponíveis no aplicativo, a procura pelas agências é essencial só para sacar dinheiro ou para apresentar documentos necessários a alguma transação. “O digital é um complemento do mundo físico, mas que pode substituir o mundo físico naquelas atividades que exigem repetição”, diz Cavalcanti, sobre o Bradesco.
Agências
Para acompanhar a tendência, o BB retirou processos burocráticos das agências e os transferiu para uma central. O objetivo é transformar as agências em “consultoria financeira”, diz Mastroini. “A tendência é que cada vez mais, pelo avanço da tecnologia, a gente consiga disponibilizar o tempo dos nossos funcionários para os clientes”, acrescenta ele.