O mercado de maquininhas de cartão de crédito nunca foi tão concorrido. Na esteira do sucesso do PagSeguro, que revolucionou o setor ao comercializar equipamentos sem cobrança de aluguel, várias empresas decidiram entrar neste segmento. O Mercado Pago, empresa de serviços financeiros do Mercado Livre, foi uma delas. Mesmo reconhecendo a importância desse mercado, a companhia acredita que as maquininhas cairão em desuso da mesma forma que o cheque e o boleto de papel.
“O que venho falando é que em 2018 o lojista não precisa mais de uma maquininha de cartão. Já temos tecnologia suficiente para fazer uma transação de pagamento com segurança, com rapidez, de forma barata e sem maquininha”, afirma Tulio Oliveira, diretor do Mercado Pago.
Para o executivo, os smartphones tendem a substituir as maquininhas, como já ocorre na China. Lá, uma das formas mais populares de pagamento é a tecnologia QR Code, recém-incorporada pelo aplicativo do Mercado Pago. “A estrutura de cartões do Brasil é muito restritiva. Cerca de 50% da população não tem conta em banco. Entre a metade que tem, parte não tem cartão de crédito. Enquanto o celular, todo mundo tem, por isso o poder de utilização dele para pagamento é enorme.”
A aposta de que as maquininhas vão cair em desuso parece conflitante com a situação atual do mercado. Existem cerca de 4 milhões de equipamentos em operação, a maior parte delas operadas por empresas ligadas a grandes bancos, como Cielo (Banco do Brasil e Bradesco), Rede (Itaú) e Getnet (Santander). O número de concorrentes não para de crescer. No mês passado, a rede de atacarejo Assaí, do Grupo Pão de Açúcar, anunciou que entraria no segmento com a maquininha Passaí.
Para que a mudança prevista por Oliveira aconteça, é preciso haver uma mudança de hábito do consumidor. Só no ano passado, os brasileiros pagaram 1,36 trilhão de reais com cartões, sendo 842,6 bilhões de reais com cartões de crédito e 508 bilhões de reais com débito.
Oliveira diz que a transição não acontecerá da noite para o dia, mas será estimulada pelas vantagens que os novos meios de pagamento oferecerão tanto para o consumidor quanto para o comerciante. Para o varejista, o principal atrativo será a redução de custos com as taxas cobradas hoje pelas empresas de maquininhas por cada valor transacionado.
“O ser humano está acomodado em uma situação que é cara e ineficiente. Se botar quanto custa tudo isso, pois o consumidor paga pelos custos do varejista, ele está pagando de 5% a 10% mais caro por toda a infraestrutura que está montada. Isso pode ser mais barato, rápido e massivo”, afirma o diretor do Mercado Livre.
Segundo ele, a criação do novo hábito de pagamento depende muito da ampliação da rede de aceitação de lojistas. Para atrair o comércio, a empresa está cobrando taxa zero dos pagamentos efetuados com QR Code. Ao mesmo tempo, está investindo em parcerias com shoppings centers (Tamboré), postos de gasolina, estacionamentos e restaurantes. “Os consumidores vão usar com mais frequência à medida que enxergarem facilidade no mundo físico”, afirma Oliveira.
Varejo x bancos
Para Alexandre Pinto, diretor de inovação e novos negócios da Matera, o varejo foi muito tempo refém dos meios de pagamento dos bancos, donos das empresas de maquininhas. “O valor pago em tarifas de pagamento é muito alto. A nova regulamentação dos meios de pagamento abriu um novo leque e deu ao varejista opções. Alguns perceberam que eles mesmos podem fazer serviços de pagamento.”
De acordo com o especialista, o comércio leva vantagem na hora de oferecer serviços financeiros ao consumidor, pois já conta com uma rede de lojas físicas. “O varejista já tem um relacionamento com o cliente, é uma marca conhecida, tem reputação no mercado. O cliente já está acostumado a pagar conta e recarregar celular no caixa da loja. Fica mais fácil fazer outras transações.”
A Via Varejo, dona da Casas Bahia, fechou uma parceria para oferecer uma carteira de pagamentos aos clientes da rede varejista. Em um primeiro momento, a carteira permitirá a digitalização do boleto para pagamento das prestações do crediário. Mas o objetivo é que no futuro os clientes da Casas Bahia tenham acesso a produtos financeiros, como empréstimos e seguros.
“A gente identificou que o nível de atendimento financeiro desse público é muito baixo. Ele tem demanda, mas não é atendido, ninguém acolhe o cliente de menor renda. Como ele já frequenta as lojas com muita liberdade, fazia sentido unir os dois mundos [varejo e financeiro]”, afirma Marcelo Nogueira, diretor de serviços financeiros da Via Varejo.