Você já percebeu como os smartphones evoluíram ao longo da última década? Desde o anúncio do primeiro iPhone, em 2007, tivemos mudanças significativas na proposta dos aparelhos, no design, nos sistemas e também nas especificações de performance.
Pois é, foi essa evolução desenfreada que nos levou a sair de modestos megabytes (os primeiros iPhone e Android tinham apenas 128 MB de RAM) e chegar no patamar dos gigabytes (muitos modelos atuais contam com módulos que variam de 2 GB a 4 GB de RAM).
É claro que as mudanças nesse sentido geralmente foram devidamente planejadas, de modo que os produtos foram projetados para entregar uma experiência satisfatória ao consumidor — cada qual dentro de sua respectiva categoria e proposta.
Todavia, as mais recentes notícias quanto ao dimensionamento dos celulares nos leva a questionar se algumas fabricantes não estão exagerando um pouco nesse sentido. Algumas marcas como a ASUS já estão equipando seus produtos com 8 GB de memória RAM.
Em teoria, esse excesso de memória teria como objetivo aumentar o desempenho para o consumidor que executa muitas tarefas. Contudo, a grande questão é: toda essa quantidade adicional de memória faz diferença no dia a dia? Por que marcas como Samsung e Apple não apostaram nessa ideia?
Quando mais nem sempre quer dizer mais
A primeira grande verdade nesse assunto é que mais memória não necessariamente quer dizer mais desempenho. É preciso ter em mente que a memória RAM está mais relacionada à possibilidade de abrir múltiplos aplicativos simultaneamente do que ao fato de abrir coisas com maior velocidade — ainda que seja bom esclarecer que padrão e clock podem influenciar um pouco nesse quesito.
Essa é uma máxima que vale para todos os equipamentos que trabalham com essa estrutura computacional. É claro que um celular (ou um computador) com memória restrita pode ter seu desempenho limitado em várias situações, mas, novamente, ele vai sofrer desse problema por não conseguir lidar com as tantas tarefas do usuário.
Só para exemplificar, no caso de um computador, essa questão da limitação de memória RAM impacta muito — e fica perceptível — quando tratamos de um cenário com múltiplos programas rodando simultaneamente.
Basicamente, quando o sistema esgotou seu recurso de memória RAM, ele recorre ao dispositivo de armazenamento (que é mais lento) para guardar arquivos temporários. Em uma situação dessas, fica bem claro como a falta de memória RAM pode deixar mais lento o dispositivo.
Então quer dizer que mais memória RAM não serve para nada? Na verdade, a resposta para essa questão vai depender muito do uso do aparelho realmente. Se um determinado usuário tem cem apps instalados no celular e costuma usar dezenas em um mesmo dia, talvez toda essa quantidade de memória RAM seja de grande utilidade.
Um público interessado em números
Quando uma fabricante projeta um smartphone, ela geralmente leva alguns pontos em consideração: público-alvo, sistema, apps de fábrica, custo e outros. Seguindo apenas o propósito da memória RAM, o dimensionamento desse componente deveria ser basicamente atrelado à quantidade de apps que o celular deve rodar simultaneamente.
Todavia, com esse exagero proposto nos últimos anos, muitas fabricantes deixaram de focar na experiência de uso e na performance para impressionar o consumidor pelos números. No fundo, tudo virou muito mais uma questão de marketing do que um benefício direto para o consumidor.
É válido notar que os smartphones exagerados não são levados a todos os mercados. Alguns produtos são moldados especificamente para determinados públicos. Os consumidores chineses geralmente se mostram muito interessados nesses produtos, então as fabricantes lançam alguns dispositivos lá e aproveitam essa novidade para “se gabar” internacionalmente.
Assim, vários modelos exagerados não são lançados em muitos territórios, sendo que somente poucos vão poder testar todo o benefício dessa memória RAM exagerada. No Brasil, muitas fabricantes até limitam o desempenho de alguns produtos (como já vimos com o LG G5 e o Moto G5), trazendo aparelhos mais modestos para os brasileiros.
Otimização pode ser mais benéfica do que quantidade
No fim das contas, duas coisas vão valer para o consumidor: o bom senso e a otimização. Sim, tudo começa lá no projeto do aparelho, época em que a fabricante pode definir o propósito de seu dispositivo e se fará sentido adicionar mais memória para seus usuários. Existem estudos e estatísticas para que as marcas entendam seus consumidores, então o bom senso começa aqui.
Sobre otimização no uso de recursos (pensando no software trabalhando de forma coerente e eficiente com o hardware), é importante notar que, às vezes, até faz sentido uma fabricante apostar em 8 GB de memória RAM para um smartphone, mas isso só é válido quando a marca não se deu ao trabalho de polir o sistema e os apps.
É perfeitamente normal acontecer de um software consumir memória exageradamente, o que, por consequência, pode causar uma queda na performance. Entretanto, a solução mais inteligente em um caso desses é reparar os erros, não aumentar a memória. Eis aqui um grande erro de algumas marcas, que simplesmente pensam em formas de driblar o problema.
Para entender como otimização é uma forma mais inteligente de projetar um celular, basta observarmos aparelhos famosos como o iPhone 7 ou o Galaxy S8. Afinal, se tanta memória realmente aumentasse o desempenho, certamente a Samsung e a Apple — que são campeãs de vendas — já teriam colocado 16 GB de RAM em seus celulares, não é mesmo?
Pode ter certeza que a memória RAM não é a peça que vai revolucionar todo o funcionamento de um celular. Ela é uma parte essencial do hardware e ter uma quantidade razoável é ótimo para uma experiência agradável, porém ter mais memória nem sempre é significado de uma performance absurda.