Por Paulo Azambuja, diretor executivo da empresa de pagamentos online F2b
De uns tempos para cá, tenho a sensação de que os smartphones estão matando os tablets. Os celulares inteligentes modernos são cada vez mais potentes e cumprem bem a função de navegar na internet, checar as redes sociais, realizar transações bancárias e assistir a um vídeo no YouTube. Trago para este artigo alguns dados que corroboram esta tese.
Trabalho com diversos tipos de público. Desde o lojista que quer vender online até o advogado, contador ou profissional liberal que emite um boleto para um faturamento recorrente. Ou mesmo um vendedor que quer checar se o comprador tem um bom crédito na praça. Acredito que os dados do nosso Google Analytics são um belo extrato do que acontece em termos de tendência nacional.
Olhando atentamente, vemos que cerca de 85% dos acessos ao nosso sistema são de desktops. Mas, como em todo o mundo, os acessos do mundo mobile são cada vez maiores. Destes, cerca de 1,20% são de tablets e 11,45% são de smartphones. Como o sistema que usamos é totalmente adaptado a telas pequenas, acredito que esses dados são válidos.
Além disso, informações veiculadas no Olhar Digital mostram que o ticket médio para a compra de um celular inteligente está cada vez maior. O brasileiro gastou cerca de R$ 900 reais para a compra de smartphones no último ano. A pesquisa é assinada pela Qualcomm e pelo Ibope Inteligência, e mostra que 26% dos brasileiros têm algum tipo de smartphone. Destes, 80% dos usuários checam seu celular a cada meia hora, pelo menos.
Isso pode ser atribuído ao crescimento da renda média do brasileiro e, pelos celulares inteligentes contarem com funcionalidades específicas, como acesso a aplicativos como o Instagram e principalmente o Whatsapp – o software de mensagem se tornou um fenômeno no país. E também aos novos lançamentos para o mercado de baixo custo, de modelos como o Motorola Moto E e Moto G, Asus ZenFone e os Lumias da Microsoft.
Vale também lembrar que os tablets sofrem com a falta de inovação e funções matadoras que os façam mais atrativos ao consumidor. Um exemplo é a líder de mercado Apple. Apesar do sucesso de vendas (e de lucratividade) com o recém lançado iPhone 6, o iPad, tablet da empresa da maçã, tem vendas estagnadas nos principais mercados, como os Estados Unidos, Europa e Ásia. A queda das vendas no 1º trimestre de 2015 foi de 23% na comparação ao mesmo trimestre de 2014. Confira mais aqui.
O que se configura como tendência lá fora quase sempre ecoa no Brasil. Aqui, de acordo com os dados da IDC Brasil, os tablets têm registrado crescimento impressionante. Sim, é verdade. Somente no ano passado foram comercializados cerca de 9,5 milhões, com incremento de 13%. Apesar da alta, a mesma pesquisa prevê retração de 3% do mercado em 2015. O Olhar Digital publicou uma nota a respeito.
Cabe aqui colocar essas informações em perspectiva. É claro que os tablets e smartphones vão registrar crescimento. Ambos, para uma parcela significativa da população, são ainda novidades. Tem muita gente comprando o seu primeiro tablet e smartphone e aderindo à era móvel.
Por outro lado, dados das vendas de celulares também estão em crescimento, mas numa ordem de grandeza maior. A mesma IDC Brasil aponta que, em 2014, brasileiros compraram cerca de 104 smartphones por minuto. De janeiro a dezembro, foram 54,5 milhões de aparelhos inteligentes comercializados, crescimento de 55% na comparação com 2013.
Para 2015, a projeção é também fechar no azul, com alta de 16%. Um dado interessante é que, somado aos celulares com funções básicas, as vendas no país totalizaram 70,3 milhões de aparelhos. Esses números fazem do Brasil o quarto maior mercado do mundo, atrás da China, Estados Unidos e Índia.
Vale também ressaltar que mundo afora – e aqui também – os tablets são classificados como computadores e os smartphones são uma categoria à parte. Não preciso dizer que a venda de PCs está em queda. Somente no 1º trimestre de 2015, esse segmento teve queda de 20%. Em 2014, o mercado já havia retraído em 26% na comparação com o ano anterior e respondido por vendas de apenas 10,3 milhões de computadores. Os dados também são da IDC Brasil.
Para completar o raciocínio, uma notícia curiosa publicada no Olhar Digital me intrigou e vai contra uma parte da lógica que aqui exponho: a venda de smartphones caiu pela 1ª vez em seis anos na China. Seria uma pequena oscilação negativa de 4%? Ou se configura numa tendência? É algo a analisar, especialmente em uma época que todos os fabricantes oferecem modelos bastante similares em hardware e, principalmente, na experiência de uso.
As marcas líderes na China também atuam ou vão atuar aqui: Apple, Xiaomi e Huawei, seguidas por Samsung e Lenovo. Quais novas funções que os pequenos computadores portáteis vão trazer para levar os números para a parte positiva da tabela? Hologramas, como sugere a Microsoft? Dispositivos “montados em peças”, como aponta o Google? Integração com relógios conectados como expõe a Apple? Phablets cada vez maiores, como vem lançando a Samsung e outras fabricantes?
E qual a repercussão dessas inovações tecnológicas no Brasil? É um debate que nos anima a acompanhar.
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