A rede social, com 45.000 funcionários no mundo todo, desenha um ambicioso plano de teletrabalho de longo prazo depois do impacto do coronavírus
O Facebook acredita que o impacto do coronavírus nos espaços e formas de trabalho será prolongado e mudará a cultura das grandes empresas. Essa reflexão já vinha se instalando em todas as companhias médias que precisaram aprender a teletrabalhar em apenas dois meses, mas recentemente pôde ser ouvida de maneira articulada e detalhada da boca de Mark Zuckerberg, o fundador e executivo-chefe da maior rede social do mundo. Zuckerberg calcula que metade da equipe do Facebook (45.000 empregados) trabalhará remotamente dentro de uma década, e deixou uma série de reflexões que espera “que sejam úteis para outras organizações” que buscam navegar esta nova realidade.
Zuckerberg falou sobre o futuro do teletrabalho e dos escritórios em uma videoconferência semanal com seus funcionários, que excepcionalmente desta vez foi aberta para todo o Facebook. O plano deve ser um guia para empresas por parte de uma das companhias mais valiosas do mundo, cujas sedes ficam em cidades com preços proibitivos e que precisa contratar e inovar constantemente. “Um produto se constrói em meses, mas uma cultura se constrói dia a dia ao longo de anos. E esta é uma mudança na cultura de como vamos trabalhar”, disse Zuckerberg a seus funcionários e ao mundo.
O cálculo de que metade dos empregados trabalhará remotamente em 2030 não é “um objetivo”, esclareceu Zuckerberg, e sim uma estimativa que se baseia nas tendências vistas a partir da necessidade de esvaziar os escritórios por causa do coronavírus. Zuckerberg citou pesquisa internas segundo as quais 30% dos chefes do Facebook apoiam completamente que suas equipes trabalhem 100% à distância, enquanto outros consideram isso incompatível com as atividades exercidas. Também descobriu que há muitos funcionários dispostos a se mudarem de cidade se o teletrabalho permitir.
“Estamos decididos a manter os escritórios”, esclareceu. “Não sabemos qual aspecto eles terão, é algo que iremos aprendendo neste ano”, acrescentou o CEO, numa frase com a qual muita gente deve se identificar atualmente. Como princípio geral, Zuckerberg disse a seus funcionários que o objetivo da nova organização não é “maximizar a flexibilidade” dos empregados, nem que estes, como princípio, possam morar onde quiserem, e sim “como atendemos melhor à nossa comunidade e fomentamos a inovação”.
Zuckerberg levou sua reflexão a um nível muito detalhado. Por exemplo, como se contrata nesta situação? Para engenheiros experientes, por exemplo, o chefe do Facebook considera que se pode contratar remotamente. Mas para jovens que entram como novatos na empresa “a aprendizagem em pessoa é essencial”. O Facebook vai analisar “uma por uma” quais equipes podem trabalhar remotamente, quais podem ser híbridas e quais necessitam do trabalho presencial. Por exemplo, as equipes que trabalham com hardware não têm como realizar suas atividades em home office. Também citou como exemplo os moderadores que vigiam temas delicados, como o suicídio e o terrorismo. Ou as equipes de vendas, que para Zuckerberg “precisam estar perto de onde vivem seus clientes”. Como regra geral, “se o seu trabalho exige estar perto das pessoas às quais se reporta, não pode trabalhar remotamente”.
O Facebook tem seus escritórios em alguns dos locais mais caros do mundo, como San Francisco, Los Angeles e Nova York. O teletrabalho abre outra reflexão. Por um lado, na contratação. O Facebook estava limitado a contratar “pessoas que vivam nessas cidades ou estejam dispostas a se mudar para lá”. Isso não será mais assim.
Por outro lado, abre as portas para que os atuais funcionários busquem lugares mais baratos para morar. Os aluguéis perto dos centros de trabalho do Facebook são proibitivos, embora a companhia pague bons salários. Zuckerberg alertou a seus funcionários que, se mudarem de cidade, irá ajustar o salário deles de acordo com o custo da vida de onde estiverem. Deu prazo até janeiro para que todos comuniquem onde estão. “Vamos precisar que todos nos digam onde estão trabalhando e vamos ajustar o salário à sua localização. É importante para a contabilidade e no aspecto fiscal. Haverá consequências sérias para quem não for honesto nisto”, advertiu Zuckerberg aos seus empregados.
Outra reflexão é se a companhia precisa abrir novos escritórios em lugares a meia distância dos seus grandes centros de trabalho. Por exemplo, Zuckerberg citou San Diego como um lugar a uma distância rodoviária razoável de Los Angeles, Portland em relação a Seattle, e Pittsburgh com Nova York. A empresa já está construindo escritórios em Atlanta, Dallas e Denver.
Zuckerberg alertou que “não vai abrir a porta e ver como fica”. A autorização do teletrabalho será “metódica”. Mais especificamente, hoje em dia os critérios para concederem essa autorização é ter um alto grau de experiência na empresa, ter uma recente avaliação elevada do seu trabalho, ser parte de uma equipe que possa se permitir isso e ter a autorização do chefe dessa equipe. “O trabalho remoto afeta a todos com quem você trabalha”, disse Zuckerberg.
“Faz sentido que sejamos líderes nisto pela classe de produtos que fazemos”, disse Zuckerberg. De fato, se trata da companhia mais bem-sucedida das últimas duas décadas no negócio de conectar as pessoas pelas Internet. O Facebook aproveitou a palestra de Zuckerberg para divulgar os recursos de teletrabalho que está potencializando. Entre elas, as ferramentas Workplace (para videochamadas profissionais) e Live Producer (apresentações e vídeos ao vivo), as videoconferências do Portal e as reuniões virtuais com a Oculus, sua divisão de realidade virtual.
Fonte: El País
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