Como vai funcionar o aplicativo francês destinado a rastrear infectados pela Covid-19

Os parlamentares franceses votarão em 28 de abril o ‘Stop Covid’, aplicativo de celular do governo francês destinado a combater a epidemia. Vários deputados e especialistas duvidam que essa ferramenta que depende de uma conexão bluetooth seja realmente eficaz e denunciam as ameaças em termos de uso indevido de dados pessoais.

O app Stop Covid será a ferramenta digital que permitirá à França sair da quarentena sem medo de um novo surto? Como vários países asiáticos, o governo de Emmanuel Macron está apostando na tecnologia móvel para rastrear os pacientes da Covid-19, diante da remoção parcial da quarentena que deve acontecer em 11 de maio, de acordo com a data anunciada pelo presidente francês.

O subsecretário responsável pelos assuntos digitais da França, Cédric O, respondeu nesta semana a perguntas dos senadores franceses sobre esse novo aplicativo em desenvolvimento com o instituto INRIA de pesquisa em ciências digitais, com a colaboração de especialistas suíços, alemães e italianos.

Rastreamento des celulares com Bluetooth

Segundo o chefe do INRIA, o aplicativo funcionaria com a tecnologia Bluetooth dos smartphones e é baseado na ideia de ‘contact tracing’ ou rastreamento de contatos. Isso significa que, se duas pessoas se cruzam, os telefones trocam e armazenam suas informações de contato. Eles também emitem um alerta mais tarde se o proprietário do celular ficar doente com a Covid-19. Dessa forma, o sistema busca “identificar as cadeias de contágio”, afirmou Cédrid O.

Dado o receio de violação da vida privada causada pelo desenvolvimento do aplicativo, o subsecretário garantiu que o mesmo seria anônimo, cada telefone teria um número de identificação na forma de pseudônimo, e que não usaria dados de geolocalização. Além disso, sua instalação e uso seriam voluntários.

O contra-exemplo de Cingapura

Mas há muitas vozes que duvidam da eficácia de tal ferramenta. Primeiro, a taxa de uso de smartphones na França é menor do que a exigida pelo aplicativo, alerta o advogado Martin Drago, da organização civil Quadrature du Net. “A proporção da população que possui um smartphone na França é cerca de 75%. Vários estudos, incluindo um de Oxford publicado na revista Science, mostram que são necessários pelo menos 60-90% da população para baixar o aplicativo. Se falamos de idosos, as pessoas mais expostas à epidemia, apenas 44% deles têm um smartphone. Cingapura está colocando em quarentena sua população novamente, porque apenas 16% baixaram esse sistema. Não foi o suficiente”, disse Drago à RFI.

De fato, apesar de ter sido capaz de controlar inicialmente a epidemia de coronavírus por meio de um sistema de rastreamento com os telefones celulares dos pacientes, a cidade-Estado de Cingapura enfrenta um novo surto e finalmente prolongou as medidas de ‘distância saudável’ até junho.

Os limites do Bluetooth

Além disso, o projeto de implementação francês encontra obstáculos técnicos. “O Bluetooth é uma tecnologia imprecisa: vamos imaginar que você passe perto de um prédio com muitas pessoas. Podemos nos perguntar se todas essas pessoas receberão uma notificação se você ficar doente”, afirmou o advogado.

“E o que acontecerá com pessoas que não têm um smartphone? Elas serão impedidas de entrar em determinados lugares ou restaurantes porque não possuem o aplicativo?”, insiste. Segundo o advogado, a prioridade é a distribuição em massa de máscaras e de testes para a Covid-19, ainda na França.

A luta com a Apple

Mas o governo francês enfrenta o poder da gigante Apple. A empresa californiana que fabrica o iPhone se recusa, por enquanto, a modificar o sistema de seus telefones para que a função Bluetooth permaneça ativa o tempo todo, o que seria essencial para o bom funcionamento do aplicativo Stop Covid.

Vários deputados franceses, tanto da oposição quanto do bloco majoritário, se opõem ao rastreamento digital da população para lutar contra a Covid-19. A administração francesa finalmente aceitou que o assunto fosse debatido no Parlamento no final de abril.

Por outro lado, as empresas Google e Apple anunciaram uma colaboração sem precedentes para que seus respectivos sistemas operacionais iOS e Android possam se comunicar via Bluetooth e, assim, permitir o uso de um aplicativo de rastreamento.

Entretanto, o comissário europeu responsável pelo mercado interno da União Europeia estima que os países do bloco não devam utilizar empresas estrangeiras no que diz respeito ao desenvolvimento de um aplicativo de rastreamento.

Fonte: RFI

 

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