Como o 5G vai mudar o desenvolvimento de games para celular

O advento do 5G no Brasil e no mundo está motivando a criação de tecnologias nas mais diversas áreas de conhecimento: saúde, agronomia e lazer, por exemplo. É devido a isso que a indústria de games deverá ser uma das maiores beneficiadas pelas redes de quinta geração.

Especialistas comparam a chegada do 5G ao mundo dos games como a insurgência dos smartphones para o consumo de produtos audiovisuais: antes, a programação da TV e os filmes eram os produtos mais consumidos; hoje, serviços de streaming democratizaram o acesso a séries e as redes sociais aumentaram o acesso a vídeos, já que a contribuição do usuário para a geração de conteúdo se tornou essencial.

Segundo um estudo feito pela GlobalData, até 2025 o desenvolvimento de jogos pode se tornar uma indústria de US$ 300 bilhões. Isso será possível graças ao crescimento do segmento de jogos para celular e pelas novas ofertas do mercado, como cloud gaming, que funciona como um streaming de jogos.

Cada dia mais se mostrando a plataforma mais acessível para os gamers, os celulares têm papel fundamental no crescimento e no rendimento estimado para a chegada do 5G.

O surgimento de novos gêneros nos jogos mobile

Raphael Lopes Baldi, CTO da Aquiris Game Studio, explica que a resposta natural do mercado para a inovação que está sendo vista nos primórdios do 5G é uma competição acirrada e que se intensifica com o acesso a novas tecnologias proporcionadas pela quinta geração.

Essa alta de capital atrai novos investidores para o segmento, de acordo com Baldi: “A atratividade do mercado, impulsionada pelas projeções de faturamento e por tecnologias melhores, deve influenciar novos empreendedores e, com isso, proporcionar mais inovação, e consequentemente nos trazer novos gêneros”.

Segundo uma pesquisa da Statista, jogos para celular têm uma base de cerca de 156 milhões de usuários apenas nos Estados Unidos. Para a Verizon, isso é um indicativo de que a chegada do 5G pode aumentar ainda mais a popularidade da plataforma, já que, para os desenvolvedores de jogos mobile, agora que a performance não é mais um problema há mais espaço para criação, criatividade e capacidade dos jogos, que podem ser mais imersivos e dinâmicos.

Contudo, por se tratar de uma nova tecnologia, Baldi pontua que são necessárias ressalvas sobre a chegada da tecnologia 5G na indústria dos jogos para celular, ao menos no início. Isso porque os projetos já existentes precisarão lidar com uma disparidade de conexões entre usuários das redes 3G, 4G e 5G. “O impacto aqui é a necessidade de mudança de foco dos times de desenvolvimento: em vez de desenvolver novas funcionalidades, os projetos deverão se concentrar em otimizar a experiência para atender às novas demandas de mercado”, completa.

Crescimento do cloud gaming

Para Baldi, a tendência que o 5G evidência é de cloud gaming, um serviço de streaming para jogos. Ele explica que plataformas voltadas para o oferecimento de jogos na nuvem permitem que os usuários pesquisem um título e, caso se interessem por ele, possam jogar imediatamente, sem a necessidade de fazer o download da mídia.

Com modelos de pagamento por assinatura, como Netflix e Prime Video, desenvolvedores terão a possibilidade de desenvolver projetos com qualidade cada vez maior para serem rodados em celulares e portáteis.

De acordo com a GlobalData, o cloud gaming é um fenômeno mundial, por isso diversas gigantes do desenvolvimento de jogos estão lutando para se tornar “a Netflix dos games”. Entraves que antes eram realidade, como latência e largura de banda, e poderiam prejudicar o desenvolvimento dessa indústria passam a ser inexistentes com o avanço da implementação da internet 5G no mundo.

A Verizon também aponta uma nova tendência. Além de ampliar os horizontes para o desenvolvimento de jogos cada vez mais criativos, poderá ser vista uma baixa nos preços. O motivo são os sistemas de assinatura, já citados, que anulam a necessidade de comprar diversos títulos e criam a possibilidade de jogar em somente uma plataforma: o smartphone.

Segundo Baldi, contudo, é necessário ter em mente os desafios que o cloud gaming trará aos desenvolvedores de jogos mobile. “Métricas que eram, no passado, quase exclusividade do modelo free-to-play, como retenção, serão cada vez mais importantes para os jogos premium. Com a facilidade de acesso vem também a falta de ‘apego’ dos jogadores aos títulos”.

O CTO da Aquiris explica que quando não se gasta tempo fazendo o download da mídia que está sendo jogada o apelo para mantê-la no dispositivo é menor, bem como para continuar a jogatina. Isso exigirá um esforço maior dos desenvolvedores para que os jogos sejam cada vez mais interessantes e gerem mais engajamento nos gamers.

“No modelo de assinatura, as lojas recebem um valor fixo mensal (número de assinantes multiplicado pelo valor da assinatura), e o esperado é que dividam parte desse valor com todos os desenvolvedores, utilizando alguma métrica de uso e retenção. Para que um jogo consiga mais atenção, obrigatoriamente outros receberão menos tempo de uso. A competição será bem mais direta”, comenta Baldi.

Maior velocidade de rede para jogos de celular

A latência e a velocidade de rede são dois fatores constantemente apontados como revolucionários pela tecnologia 5G. Na indústria dos games, esses aspectos interferem massivamente na comunicação dos jogos com os servidores que os suportam, podendo ser responsáveis por uma gameplay boa ou ruim. “Muitas vezes, [os usuários] assumem que os problemas que enfrentam com os aplicativos estão relacionados às dificuldades das operadoras em prover um bom serviço ou uma boa cobertura de sinal”, explica Baldi.

De acordo com ele, o desenvolvimento de sistemas capazes de responder para centenas de milhares de usuários de forma concorrente é uma atividade complexa. Imagine aumentar esses números para alguns milhões ou dezenas de milhões de celulares. Esses fatores exigirão que as equipes amadureçam, desenvolvam processos melhores de controle de qualidade e estruturam suas operações em ambiente de nuvem para suportar os aumentos de carga e a maior exigência dos usuários.

Contudo, segundo as projeções, o 5G será capaz de oferecer latências de 1 milissegundo ou menos e velocidades de transmissão que podem chegar a 1 gigabit por segundo. Para o CTO da Aquiris, será um trabalho dos times de desenvolvimento de jogos para celular conseguir otimizar os sistemas que suportam as mídias para que as operações possam ser mais rápidas e continuar progredindo conforme o avanço da internet 5G.

Fonte: TecMundo

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