Facebook utiliza o microfone do celular para direcionar publicidade? Zuckerberg afirma que não

Mark Zuckerberg prestou depoimento no Congresso dos EUA para dar explicações sobre o escândalo Cambridge Analytica, que expôs dados de até 87 milhões de usuários do Facebook. Os senadores fizeram perguntas sobre uma variedade de assuntos, incluindo uma famosa teoria da conspiração.

O Facebook está ouvindo o que você diz para exibir publicidade personalizada? A rede social disse várias vezes que não; alguns usuários relutam em acreditar.

Mark Zuckerberg

Então, o senador Gary Peters perguntou a Zuckerberg se o Facebook “usa áudio obtido de dispositivos móveis para complementar informações pessoais sobre seus usuários”. Mark Zuckerberg foi direto: “não”.

Ele continuou:

Senador, deixe-me ser claro sobre isso. Você está falando sobre uma teoria da conspiração divulgada por aí de que ouvimos o que está acontecendo no seu microfone e usamos isso para anúncios. Nós não fazemos isso.

Para ser claro, permitimos que as pessoas gravem vídeos no dispositivo e os compartilhem. Vídeos também têm áudio. Então, enquanto você está gravando um vídeo, gravamos o som e usamos isso para melhorar o serviço, certificando-se de que seus vídeos tenham áudio.

É basicamente o que o Facebook disse em um comunicado em 2016. “O Facebook não usa o microfone do seu celular para direcionar anúncios… Nós só acessamos seu microfone se você deu essa permissão para nosso aplicativo, e se você estiver usando ativamente um recurso específico que requer áudio, como gravar um vídeo.”

Ainda assim, muita gente acredita que o Facebook está ouvindo o que você diz. Existem uma série de relatos em que o usuário conversa sobre um assunto específico, que nunca foi mencionado antes, e surgem anúncios relacionados no feed de notícias pouco tempo depois.

No Brasil, um dos casos mais famosos é o Cumbucagate. Um dos apresentadores do Braincast, podcast do B9, recebeu propagandas de cumbucas no Instagram, que pertence ao Facebook, após falar sobre cumbucas em casa.

Ainda assim, especialistas e ex-funcionários do Facebook dizem ao Wall Street Journal que há limitações técnicas, e jurídicas, impedindo o aplicativo de ouvir o que você fala para direcionar anúncios.

Antonio García Martínez, que cuidava do direcionamento de anúncios no Facebook, explica em detalhes na Wired que isso seria extremamente difícil. Gravar áudio geraria uma quantidade enorme de dados e “seria eminentemente detectável”; haveria um milhão de palavras-chave para o app detectar; e o smartphone de milhões de pessoas ficaria quase inutilizável de tão lento.

Monitoramento

Então como o Facebook parece ouvir o que as pessoas estão dizendo? É que o direcionamento de anúncios é tão preciso que chega a assustar.

Primeiro, o Facebook tem um perfil bastante detalhado sobre os seus interesses. Você vem fornecendo esses dados ao longo dos anos, na forma de curtidas, comentários e cliques. Para ter uma ideia disso, vá até a página “Suas preferências de anúncios” e, na seção Suas informações, clique em Suas categorias.

Além disso, a rede social monitora sua atividade em centenas de milhares de aplicativos e sites. Com o Facebook Pixel, é possível rastrear se você fez um cadastro, se adicionou itens ao carrinho, ou até que ponto você leu um artigo. Assim, como explica a própria rede social, é possível “usar esses dados para direcionar anúncios relevantes”.

Tem mais: o Facebook sabe onde você está, seja através do endereço IP, redes Wi-Fi ao redor, ou do GPS em seu smartphone (caso você tenha autorizado). Isso permite às empresas direcionar anúncios com uma precisão enorme, caso você esteja a algumas quadras da loja, por exemplo.

O Facebook também permitia, até pouco tempo atrás, que anunciantes combinassem esses dados com outros vindos de serviços como Experian e Acxiom. Esse recurso foi removido após o escândalo Cambridge Analytica.

Se você ainda não acredita no Facebook, eu entendo. A rede social sabia sobre o caso Cambridge Analytica desde 2015, mas só avisou os usuários agora, ela violou nossa confiança.

Tem mais: Mark Zuckerberg não fez um juramento no Congresso antes de depor, o clássico “juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade” com uma mão levantada. “Em vez disso, eles decidiram confiar no executivo, uma estratégia que não funcionou muito bem até agora”, diz o Boston Globe.

E assim continua o #cumbucagate.

Fonte: Felipe Ventura / Tecnoblog

 

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